Poemas

Disponibilizamos aqui poemas de autoria dos acadêmicos e acadêmicas. Boa leitura!

Desatando nós (Carolina Rodrigues)

A fugacidade se alastra definhando laços
Os encontros múltiplos desertando abraços
E o que é fugidio dessincroniza os passos
Transformando caminhos em desencontros tácitos.

Ninguém mais se beija como em fusão
Faz-se simbiose com a solidão
Nesse ensejo surdo à desilusão
Somos todos cegos à luz da razão.

E se se fizer apelo ao coração?
E o apego ao amor fazer ver o rastro?
Para que o destino desvirtue os passos
Descaminhos ao certo aparecerão.

E se alguém disser que os tempos são de ilusão
E à frivolidade fazer alusão
Darei a todos a única explicação:
Trocamos os nós do amor pelos sós da paixão.

A origem de São Sebastião do Paraíba (Ismenia Melo)

Nos relatos do passado
Esta história vem provar,
Que foi através da fé
Que originou este lugar.

Dizem que três fazendeiros,
Donos desta região,
Eram devotos do santo,
O glorioso São Sebastião.

Ao verem seu povo morrendo
De uma grave epidemia
Fizeram promessa ao santo,
Nenhum remédio valia.

Se a cólera fosse banida
Daquele bendito lugar
Ergueriam uma capela
E o colocariam no altar.

Assim que a doença acabou
Cumpriu-se o que foi falado,
Na fazenda Boa Sorte
O terreno foi doado.

Da fazenda São Thomaz
Vieram as telhas do telhado
Transportadas em balaio
Por escravos, carregado.

E com o trabalho penoso,
Daquela gente sofrida,
Montando pedra por pedra,
A capela foi erguida.

A imagem de São Sebastião
Foi colocada no altar
Para que fosse consagrado
O padroeiro do lugar.

Daquele dia em diante
Muita gente foi chegando
E com esforço e trabalho
O lugar foi aumentando.

Então, às margens do rio,
A vila se batizou,
São Sebastião do Paraiba,
A sua fé lhe salvou.

Verdejar (Fabiana Figueira Corrêa)

Quando nascer
Hei de ser árvore
Por desassossego que farfalha o peito
Cada vez que respiro
Árvore de casca escamada
Que inflama o tronco firme
Transbordarei em galhos
Que abraçam o céu
Por minhas folhas
Verdejarei memórias
Trazidas no bulbo dormente

Quando crescer
Quero ser árvore
Que se espalha
Em ramos exibidos
Crescendo em grão e pedra
Serei árvore grande
Que se esgalha em campo aberto
Pronta para sombrear sonho
Com meus braços que galhos serão
Abraçarei o ar em cada vento
Tocado a sopro solar

Quando viver
Hei de ser árvore
Que rompe o solo
Buscando sol
Enquanto o silêncio da terra
Expande minhas raízes
Entrelaçando-me a muitas

No silêncio escuro
Hei de balançar ao vento
Meditar na chuva
Repousar no outono

Quando despertar
Hei de ser árvore
Abraçada por floresta densa
Serei uma como tantas
Serei única como o todo
De minhas flores
Brotarei em cores
Beberei a fertilidade dos meus frutos

Quando por fim
De mim cansar
Abandonarei folha a folha
Sem labuta solar
Me entregarei às hifas dormentes
E do pó renascerei em novo corpo
Que um dia já foi grão
Da minha própria existência
Nas sementes
Guardarei o sonho
De romper em nova árvore

Sertão bravio (José Huguenin)

À pequena sombra de um cambucá
À beira da Sete Quedas,
No frescor de uma manhã de primavera
Com o constante bater da água na pedra
Meu pensamento se deixa levar…

Volta no tempo,
No exato momento
Da prisão de Mão de Luva
Burburinho das lavrinhas,
Com um certo cucuricar
Será mesmo história,
Memória do meu lugar?

O pouco ouro,
A busca frustrada,
Era mesmo preciso aproveitar a estrada
Aberta
Com tanto penar
Naquele sertão de mata e nada
Viu-se que a terra era boa de plantar.

Mas plantar, assim, em terra distante,
É preciso espírito de bandeirante,
É preciso fé…
E assim, nascem as grandes lavouras de café.
Sob concessão do Vice-Rei,
Donos de terra chegam
Trazendo na mala escravos para trabalhar,
Assim, as serras daquele Sertão de Macacu
Abrasileira-se…
A reboque da febre
Do ouro vermelho,
O lugar se agiganta de um estalo
Passa a chamar Cantagalo,
Celeiro fluminense,
Onde tudo que se planta dá.
Vem a estrada de ferro,
Vem a Fazenda São Clemente,
De Areias,
Da Saudade,
Da Batalha,
E outas a despontar….
Vem o Palacete do Gavião
Onde o imperador veio se hospedar.

O país republica-se,
O café cai vertiginosamente,
Fazendas a fazer inventário,
E eis que se descobre calcário.
Argamassa-se os verdes campos
E a partir desse momento
Vira a capital do cimento…

Não só de concreto
Teu nome se faz…
As mentes que produziu,
Euclides de Cunha,
Chapot-Prevout,
Edmo Lutterbach,
Amélia Thomaz,
E outras tantas mais…

E cada filho seu, Cantagalo,
Cheio de orgulho,
Vai sempre consigo levar
O chiado da Sete Quedas,
A sombra de um cambucá.